terça-feira, janeiro 02, 2007

Pós-mortem

Eu sei que tens a garganta ressentida
Mas de nada te servirá o grampo preso ao nariz
O cheiro ácido que a morte exala
Nem mesmo os necrófagos cravos dissipam
Erga-te homem e e
nxuga os olhos
Ela está morta!
Jogue a carne apodrecida aos abutres
Desvia teu olhar deste leito ensopado de memórias
É pálida a tez do náufrago corpo que nele flutua
Não vês que a morte já se fez fecunda
Jaz em tímido jazigo a face em fogo que te ardia
Anêmico é o sangue estancado àquelas artérias
Onde havia um coração não há mais nada
Óbvia é a tristeza da perda
Revigora-te a alvura das idéias inomináveis
O fim é um frívolo assassino sem rosto
Erga-te e p
õe teus gestos em combate
Deixa verter tuas minúcias pelos pontos da ruptura

Deixa nascer o bastardo pensamento-deus
Que recém-nascido
da mortalha de tantos outros Eus
A verdade não contesta
“Inês é morta!”
.
.
.
Nina Delfim

2 comentários:

Anônimo disse...

Ácido, rascante! Mas incrivelmente belo esse poema, Ninah. Não sei falar da morte, não sei lidar com ela, não sei...Mas fiquei encantada com sua precisão, sua talhadeira poética sobre o tema.__Beijos.
30/07/2006 11h04

Anônimo disse...

Vim novamente ler esse poema que tanto me tocou e buscar textos novos. Noto que desde 27/7 vc não tem aparecido. Espero que esteja bem, apenas descansando, alinhando o espírito e a mente.__ Beijão saudoso
06/08/2006 15h58