terça-feira, fevereiro 20, 2007

Código Antropofágico



Órfão de asas firmou os pés sobre a terra molhada, vestiu-se com outras vestes e seguiu. Logo acima, mas fora do seu alcance, flutuava um resto de lua, uma minguante menina cínica com um bouquet de brancos dentes a sorrir da fricção de suas débeis memórias. Circulava-lhe à mente um tempo de horas idas em que fez florescer céus inteiros de estrelas corpóreas. A monstruosidade da mesmice se repetia e era muito enfadonho não poder se mexer. Dia após outro se sintetizava o resultado singular de um temperamento que morria aos poucos no estreito espaço de incontáveis contrapontos. Enquanto desenhava sonhos, muitas imagens se escondiam na lama que já ultrapassava a altura da consciência. No antro do útero-mundo soou um baque surdo de um corpo sem vida que às escuras percorreu sem lua e sem o balé dos vaga-lumes a poesia que sozinha só lhe tecia o medo.
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Nina Delfim