Confessou a morte que queria viver
Cravou à mente despida as unhas pintadas de cores vivas
Estava disposta a remover de si todos aqueles tons cinzentos
Um filete de luz a convidava a atrever-se e exigir vida
Erguendo-se frouxa contra o seu próprio encerramento
compreendeu que aceitar-se derrotada
reduziria o efeito da dolorosa despedida
Fervilhava-lhe ao estomago uma ânsia aflita
a bílis irrigava-lhe a língua ferina impiedosamente
Engoliu suas amarguras corajosamente
contendo um vômito proeminente
Há dias não comia ou bebia
a veia era alimentada insistentemente
A boca entreaberta
já pronunciava palavras atrapalhadas
A morte estava ao lado
cheia de si
a preenchia cinicamente
espalhando sobre ela todos os seus paradigmas
Salivou cada segundo restante
O ar se tornou denso e a respiração inconstante
uma dor aguda fez com que mordesse o lábio inferior
A morfina abrandou seus tremores e medos
acalmando seus horrores fúnebres
Calafrios e ais lacrimejantes a crucificaram injustamente
À face abatida e pesada
um sorriso indiferente a repousou
um vago olhar pareceu perguntar:
Vida, nada mais tens a me dizer?
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Nina Delfim
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Nina Delfim