terça-feira, novembro 28, 2006
Demência mórbida
Ressecou-se na véspera quando o desprezo lhe fez um aceno.
Ar rarefeito, desfeito de cheiros e o gosto do último beijo ardendo por dentro.
Longe da vida, por gosto, entregou-se à volúpia do que o satisfazia. Covarde demais para cogitar o auto flagelo seguiu à procura de alguém que o punisse. Enquanto as pegadas cresciam na sombra, do fundo escuro da imagem projetada sobre o piso frio escapou um som diferente, um choro concêntrico e único. Se havia mais alguém por perto, existia em silêncio e, se sofria, era de uma dor inaudível. Passaria horas afinando sílabas para compor com perfeição uma palavra capaz de exprimir com fidelidade o ruído daquele sentimento. Era um fraco-forte oscilante que nada tinha do que trazia consigo, mas que doía, doía tanto quanto a coragem que ele não tinha quando se sentia lúcido.
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Nina Delfim
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8 comentários:
É bonito. Parabens!
mais uma vez, parabéns Ninah ! a sua prosa é intensa, concisa e bem construída. Muito lindo. um abraço.
10/07/2006 23h25
Vim até este texto por indicação da moça aí embaixo - amiga e boa escritora/poetisa - a Val. E como sempre ela prova ter um bom gosto muito grande - você fez - de forma concisa - um excelente texto... uma forma de escrever que nos ensina muito Gostei de verdade. Parabéns !!! Se tiver um tempo leia a minha " É MADRUGADA PLENA". Abraços
11/07/2006 07h09
cara Ninah Indicaram-me seu texto. Intrigante, preciso. Lembra Kafka. Um abraço.
11/07/2006 09h01
Ótimo. Parabéns pela bela obra.
13/07/2006 01h48
Olá Nina, vim a seu texto por recomendação da escritora Ana Valéria, e como não poderia ser diferente, não perdi a viagem. Numa leitura particular, vejo que o personagem procura alguém que o castigue, talvez dê cabo de sua vida. Apesar de imagens fortes, a linguagem é tênue. Os paradoxos do final devem ser bem observados pelo leitor, para que o mesmo tenha total compreenssão do texto. Enfim, temos aqui um texto muito bem escrito, fato que se nota na concisão, na força das imagens e na precisão da linguagem. Parabéns!
18/07/2006 08h49
Interessante ...Indecisão, mascarada auto-punição, dor amorosa pela perda, não -realização ou remorso, loucura, fastasmas arrastados ao longo da vida? Muitas perguntas a um belo e intrigante texto, Ninah. __Beijos, querida amiga.
05/08/2006 02h23
Bem melhor é continuar longe da lucidez, embebedado de silêncios para não despertar fantamas. Abcs F.
10/08/2006 00h02
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