
Ressecou-se na véspera quando o desprezo lhe fez um aceno.
Ar rarefeito, desfeito de cheiros e o gosto do último beijo ardendo por dentro.
Longe da vida, por gosto, entregou-se à volúpia do que o satisfazia. Covarde demais para cogitar o auto flagelo seguiu à procura de alguém que o punisse. Enquanto as pegadas cresciam na sombra, do fundo escuro da imagem projetada sobre o piso frio escapou um som diferente, um choro concêntrico e único. Se havia mais alguém por perto, existia em silêncio e, se sofria, era de uma dor inaudível. Passaria horas afinando sílabas para compor com perfeição uma palavra capaz de exprimir com fidelidade o ruído daquele sentimento. Era um fraco-forte oscilante que nada tinha do que trazia consigo, mas que doía, doía tanto quanto a coragem que ele não tinha quando se sentia lúcido.
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Nina Delfim
