sábado, janeiro 01, 2005

Delicada relação


...e com docilidade extrema compartilhavam os pequenos prazeres diários. A assustadora desordem amorosa, observada nos dias de hoje entre homens e mulheres, não necessariamente nesta ordem, não os havia alcançado, viviam sem sobressaltos uma relação de amor gostoso, aconchegante e sem controvérsias. Simplesmente felizes...
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Se nos fosse dado o direito de dar continuidade a história acima, certamente inferiríamos ao seu contexto nossas impressões. Existem muitas maneiras de se concluir uma história de amor. Podemos dar a ela um desenrolar feliz ou acrescentar-lhe uma série de conflitos com um desfecho dramático e infeliz.
O pessimista tem sempre em mente a certeza de que a desgraça é eminente, hora ou outra tudo vai desmoronar e o otimista acaba pecando por excesso de autoconfiança. Ao se deliciar exageradamente com um suposto "viveremos felizes para sempre" se esquece de proporcionar à relação os estímulos necessários para que ela tenha realmente alguma chance de ser feliz.
Mais uma vez, a razão parece se situar ao centro, no meio do todo.
Quando tomamos conhecimento da existência de relacionamentos perfeitos, uma série de perguntas nos aflige. Especialistas do mundo inteiro em comportamento vêm buscando uma resposta acertada para saciar as inúmeras dúvidas existentes no que diz respeito ao amor, este sentimento tão desejado e minimamente usufruído que, desde os primórdios afronta a raça humana, afogando-a em um lastimável mar de lágrimas. Chora-se por amores fracassados mais do que por qualquer outro motivo.
Atribui-se a responsabilidade pela desordem amorosa aos mais diversos fatores, certamente do conhecimento de todos, já que relações conturbadas têm sido um tema de abordagem freqüente nos meios de comunicação e no
dia-a-dia de todos nós. Perderíamos horas à procura dos possíveis responsáveis e provavelmente não os encontraríamos. Seria adorável compreender o porque da maioria não conseguir vivenciar o amor sem a presença de tanto sofrimento. As justificativas apresentadas até o momento são meras suposições. O amor e suas variações parece não caber à intelectualidade.
Talvez este seja o cerne da questão, tirar proveito da sensação evitando a compreensão dos seus sutis rigores.
Por que o amor tem fácil combustão e é tão volátil?
Somos tão inseguros quando ousamos esta experimentação que acabamos por nos precaver excessivamente para não vê-la fracassar. São tantos os fantasmas a nos atormentar que esquecemos de aproveitar as vantagens ocasionadas por este estágio de sublimação. A vigília se torna tão minuciosa que a imaginação adoece, perturbando a lucidez. Se estivermos alterados não saberemos como lidar com a situação, às vezes distorcida.
Uma série de valores nos foi ensinado desde a mais tenra infância e todos eles estarão presentes em nossas ações. É muito comum rejeitarmos sentimentos que nos colocam em desvantagem. Esquivamos-nos habilmente à parcela de responsabilidade que nos cabe em acontecimentos desagradáveis. Sempre que possível encontraremos no "outro" uma ação qualquer que torne a nossa atitude compreensível. Se perspicazes conseguiremos não só nos livrarmos da nossa suposta culpa, mas fazer com que o outro a aceite como sua. Somos inegavelmente perversos! O instinto animal nos convoca diariamente à auto proteção. Relações amorosas que poderiam durar anos, não têm sobrevivido a dias ou meses. De um modo geral, o amor é um assunto muito verbalizado e raramente usufruído.
Que pena não é mesmo! Onde está o amor perfeito que tanto nos comove em filmes e best sellers? Eu não sei! Adoraria ter às mãos a resposta certa. Assim como você, permaneço agarrada a explicações pouco convincentes e sem aplicabilidade. Quem sabe se "baixássemos a guarda" não aumentaríamos as nossas chances para vivenciarmos nossas emoções sem tanto sofrimento.
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Nina Delfim

5 comentários:

Anônimo disse...

Minha doce nina.
Tive o interesse de ler todo o seu blogger e mergulhar dentro de assuntos, que pela suas letras, se tornaram interessantes.E é no amor que prefiro dar minha opinião, sim, este ser muito verbalizado e pouco usufruído.
Eu, antes de pensar na desordem que observo nas relações amorosas de hoje, ou tentar concluir algumas das minhas "estórias" amorosas com algum final que me agrade, me vejo tomado por um grande nada.Sim.E talvez por ser um nada, assim no meio da noite, sem motivo que eu descubra, vejo e escuto minha alma se afogando em um lastimável mar de lágrimas.Não, não sou pessimista.Mas me diga, são todos que estão preparados para o amor?Estamos falando de algo que talvez fosse o motivo de nossa permanência neste mundo, nossa grande missão, o aprendizado mais importante.Contudo, não me parece algo que possa estar nas mãos e nos olhos de todos.Não me flagelo por isso, só aprendi a não ter medo, pois o simples fato de manter a porta aberta para ele (o amor), me faz sentir como se estivesse para chegar na página tão esperada de algum livro.
Agora eu também pergunto: Se o amor é o grande segredo de nossa existência, teria graça descobri-lo tão cedo??

Anônimo disse...

OI, Nina, muito legal este seu espaço. Adorei, vou indicá-lo nas minhas páginas.
Beijabrações
www.luizalbertomachado.com

Anônimo disse...

Falar do amor, é algo muito complexo. E quando envolve usufruí-lo, aí então fica mais difícil. No entanto, me arrisquei falar um pouco sobre ele no meu Blog "Existe Amor Perfeito?".
Não sei se cheqguei perto, mas sempre vale a pena tentar, não é mesmo.
Sempre me encanto com o que escreve.

Nina Delfim disse...
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Nina Delfim disse...

Querido Rafael S. Corrêa

Comove-me a sua paciência em percorrer os meus pensamentos. Agradeço muitíssimo!
Com certeza não sou a pessoa adequada para responder às questões que você formulou dentro daquela minha superficial abordagem sobre o amor. Corri, corro e continuarei correndo na direção oposta ao amor. Gostaria de ter a sua coragem e me colocar à disposição deste sentimento tão curioso, tão cheio de variações e consequências comprometedoras.
São tantos os fatores a considerar...
Quanto ao tempo certo para amar eu acredito que nem mesmo neste patamar nos é dado o direito de escolha. No geral, o amor não se anuncia ao chegar, quando o percebemos, já está instalado em nós e o pior é que quando cisma de sair, nem aviso prévio aceita cumprir.
Lamento pela minha inutilidade neste tema. Como você mesmo pôde ver, me encontro distante de alcançar a compreensão do que há de realmente positivo neste sentimento, portanto inadequada para lhe fornecer a resposta correta.

Beijos confusos