sexta-feira, fevereiro 04, 2005

Mulher de ninguém

Desmantelado o cativeiro
resgatou-se rompendo as correntes
Ergueu-se ferida e se expôs ao mundo dos homens
Perdeu seu ar de graça aparente
Queimou conceitos decadentes
Incendiou os costumes existentes
Despiu-se completamente
Descartou-se da beleza que agradava ao seu senhor
Exibiu-se gente
esteticamente imperfeita
livre de todas as faces que a ocultavam
Afrontados pela capacidade demonstrada por ela
expuseram-na antiética ao caos de suas misérias
Vagou entre os extremos de ser ventre ou ser alguém na vida
Solta na imensidão do novo nada
encolhida sob o todo restante ainda por conquistar
perdeu a inocência ao ser atacada frontalmente pela insegurança
Foi à luta despida
armada de convicções decentes
Com a liberação da "pílula mágica”
de promíscua e vagabunda foi taxada
Independente da moral e dos "bons" costumes
o ato sexual foi tornado um prazer ao seu alcance
A influência externa quis moldá-la à força
equilibrou-se sobre a linha tênue que a conduzia
decidida em sua jornada feminina
enraizou suas primeiras glórias na certeza de oytras muitas
Estrategista de primeira
empobreceu o compartilhar conveniente aos ditames sociais
elaborando regras básicas de convivência humana
Fragilizada pelas atrocidades cometidas contra ela
gozou em silêncio vaidades e pequenas vitórias
convocando o mundo a uma audição de seus sons mais íntimos
Em vermelho escorreu-se
concebendo um mundo imprevisto e singular
sangrando em todas as cores e bandeiras
A liberdade se exibia sem pudores
instigando-a a desfazer-se dos horrores da submissão absurda
Na mais completa ausência de teorias
tornou-se o resultado do que não poderia mais ser
Fixou os pés além das fronteiras que avistava
Reconheceu-se igual
À primeira vista
permitiu-se deslumbrada
encantando-se com cada um de seus recantos
marcando a própria pele com impressões falsas
Drástica à ausência do cabresto
apagou de suas experimentações os pronomes possessivos
Livrou-se das amarras
definindo-se senhora de si
Uma mulher de ninguém
.
.
.
Nina Delfim

2 comentários:

douglas D. disse...

olá.
palavras-movimento; vivas.
bom encontrar este espaço.

Anônimo disse...

ESSA MULHER DE NINQUEM É A MULHER FORTE QUE TODO HOMEM QUERIA TER... SEM AMARRAS SEM SER SUBMIÇA E COM MUITA RAÇA PRA ENFRENTAR O NOVO DE CADA DIA,EU ADOREI!!!BEIJOS
19/05/2006 12h21